As principais funções do quadril são suportar o peso corpóreo e oferecer movimento para a locomoção.
Diferentemente de outras articulações, como o ombro e o joelho, o quadril é dependente, quase que exclusivamente, do seu arcabouço ósteo-cartilaginoso. Portanto, pequenos desalinhamentos ou mínimas alterações da congruência articular, devido ao suporte do peso, levarão ao desgaste da cartilagem articular.
A mais comum doença do quadril é a ARTROSE, que é o resultado do desgaste da cartilagem articular. Há outros termos que podem ser usados para designar essa doença, como osteoartrose, doença degenerativa articular, artrite degenerativa, coxartrose. A artrose pode ser de dois tipos: primária, quando o processo ocorre sem causa aparente, e secundária, quando o processo ocorre por uma causa conhecida ou preexistente, como: osteonecrose da cabeça femoral, sequela de fratura, Doença de Legg-Calvé-Perthes, luxação congênita do quadril, artrite reumatóide, artrite séptica, espondilite anquilosante, Doença de Paget ou Impacto Fêmoro-Acetabular (IFA).
A dor provocada pelos problemas de quadril é sentida geralmente na virilha, irradiando pela coxa até o joelho, não sendo raro o paciente procurar o médico acreditando que o problema está no joelho e não no quadril.
Para o diagnóstico, além da história clínica de dor progressiva, o paciente apresenta-se também com limitação de movimentação do quadril, até rigidez articular, crepitação (estalido), claudicação (dificuldade para caminhar), dificuldade progressiva para vestir meias ou amarrar sapatos e até dificuldade para se levantar de cadeiras com assentos muito baixos. Para se comprovar a hipótese de artrose o exame complementar mais utilizado é a radiografia, onde se observam os sinais característicos: diminuição do espaço articular, esclerose subcondral, presença de osteófitos e geodos.
O tratamento da artrose do quadril pode ser dividido em conservador e cirúrgico.
No tratamento conservador estão incluídos medicações, fisioterapia e medidas para diminuir a carga no quadril, como uso de bengalas, perda de peso e para evitar problemas circulatórios e cardíacos causados pela diminuição de atividades são recomendados exercícios como: natação, hidroginástica, uso de bicicletas.
O tratamento cirúrgico deve ser indicado naqueles casos onde não se observa alívio dos sintomas com medidas conservadoras, e os tipos de procedimentos cirúrgicos podem ser divididos em osteotomias (femorais e/ou acetabulares), artrodeses ou artroplastias, sendo indicada qual melhor cirurgia para cada caso em decisão conjunta do ortopedista e do paciente.
Artroplastia Total do Quadril
Na década de 60, o cirurgião-ortopedista Sir John Charnley trabalhando ao lado de engenheiros na Inglaterra desenvolveu a moderna artroplastia total de quadril. Tal operação consistia em remover a cabeça de fêmur, sendo esta substituída por uma esfera metálica na ponta de uma haste (componente femoral) que se encaixava dentro do fêmur, que tem um canal oco. A parte da bacia, no acetábulo, era posicionada uma peça de plástico (componente acetabular), onde se articulava a cabeça metálica. Ambos os componentes eram fixados ao osso com cimento de metilmetacrilato.
O sucesso desse procedimento desencadeou uma série de pesquisas científicas que levaram ao desenvolvimento de melhores técnicas cirúrgicas, evolução na qualidade do material dos implantes, diminuindo tempo de cirurgia, riscos anestésicos, e aumentando a durabilidade das próteses.
Há vários tipos e desenhos das próteses, mas basicamente de dividem em cimentadas, não-cimentadas e híbridas, indicadas observando-se a densidade mineral do osso e preferência técnica do cirurgião.
Uma prótese cimentada é aquela onde tanto o componente femoral quanto o acetabular são fixados ao osso por cimento de metilmetacrilato, uma prótese não-cimentada a fixação é por crescimento ósseo para o interior de porosidades nos componentes metálicos (osteointegração), e uma prótese híbrida o componente femoral é cimentado e o acetabular não-cimentado.
Antes de se realizar a cirurgia, o paciente deve realizar exames (laboratório, eletrocardiograma, radiografias) que são todos requisitados pelo médico ortopedista ou pelo clínico que o acompanha e que serão avaliados pelo anestesista.
O tempo de internação varia de 5 a 7 dias, dependendo da recuperação pós-operatória de cada paciente. No primeiro dia após a cirurgia, são orientados exercícios no leito hospitalar, com acompanhamento de um fisioterapeuta, no segundo ou terceiro dia, geralmente, o paciente é estimulado a sair do leito e iniciar pequenas caminhadas com uso de muletas ou um andador, aumentando a distância nos dias seguintes. São orientadas algumas posições que devem ser evitadas como sentar em cadeiras baixas, agachar-se, cruzar as pernas e girar a perna para dentro, por período de seis semanas (tempo de cicatrização da cirurgia).
O paciente recebe alta hospitalar e retorna no consultório após 18 a 21 dias para novas orientações, avaliação da ferida operatória e retirada de pontos. O uso das muletas é indicado por 6 a 8 semanas desde a cirurgia, podendo ser indicada por mais tempo dependendo da avaliação do médico. Nova avaliação é realizada com 2 meses, 4 meses, 6 meses, 1 ano e depois a cada ano.
A artroplastia total do quadril é um exemplo de um dos maiores sucessos da ortopedia no século XX. As possibilidades são que 95% das vezes não ocorram problemas graves. Porém, como em qualquer outro procedimento cirúrgico, existem complicações precoces e tardias. As mais comuns são:
1- Tromboembolismo: deve ser prevenido com medicações anti-coagulantes e meias elásticas após a cirurgia, exercícios fisioterápicos ainda durante a internação hospitalar e seguidos em casa a na clínica de fisioterapia,
2- Luxação: é mais comum nas seis primeiras semanas (a prótese sai do lugar) onde o tecido cortado na cirurgia ainda está cicatrizando e algumas posições devem ser evitadas como sentar em cadeiras baixas, agachar-se, cruzar as pernas e girar a perna para dentro,
3- Discrepância de Membros Inferiores: é a complicação mais comum, minimizada com planejamento criterioso pré-operatório e tratada normalmente com uso de palmilha na perna menor,
4- Lesão nervosa: ocorre uma dificuldade de movimentação do pé para cima e diminuição da sensibilidade da perna e pé ipsilaterais, mas na maioria dos casos há recuperação espontânea (Neuropraxia),
5- Infecção: é prevenida principalmente com antibiótico endovenoso, injetado geralmente pelo médico anestesista momentos antes de começar a cirurgia e seguido durante a internação hospitalar,
6- Afrouxamento Asséptico: a prótese solta do osso, sem infecção, devendo ser trocada, é uma complicação tardia (ocorre alguns anos após a cirurgia), e é determinada pelo emprego correto das técnicas cirúrgicas e também pela qualidade do material da prótese.
Indico, para aumentar o tempo de duração de uma artroplastia do quadril, próteses de fabricação estrangeira, principalmente de fábricas americanas e européias, por acreditar em melhor controle de fabricação dos materiais, além de melhor instrumental para adaptação do implante. A perfeita relação entre os componentes (templates / fresas / testes / prótese) possibilita ao ortopedista, durante a cirurgia, realizar de forma eficaz o que foi programado no período pré-operatório.
É uma satisfação apresentar-lhe este manual e espero que ele possa ajudá-lo a entender o seu problema e o tratamento indicado. Estou à disposição para esclarecer qualquer dúvida que lhe tenha restado.
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